Uma parceria na produção de castanha do Brasil entre uma cooperativa de agricultores familiares e povos indígenas foi apresentada como estratégia de sustentabilidade ambiental e econômica em um intercâmbio realizado no Noroeste de Mato Grosso. A Cooperativa dos Agricultores do Vale do Amanhecer (Coopavam), desde 2011, vem comprando a produção de castanha dos índios Cinta Larga, da aldeia Flor da Selva, em Aripuanã.
Daiet Kaban, presidente da Associação Passapkareej, do Povo Indígena Cinta larga, explicou que no primeiro ano da parceria os Cinta Larga comercializaram para a Coopavam 25 toneladas de castanha e em 2013 a produção atingiu a marca de 40 toneladas. “Antes da parceria a gente vendia a castanha para atravessadores por sessenta centavos o quilo, agora vendemos a três reais para a Coopavam”, explicou. Além disso, de acordo com o Cinta Larga, acontecia de o atravessador levar o produto e não pagar os índios.
A realidade agora é outra. Nesta safra, somente Isaac Cinta Larga colheu cerca de 30 latas por dia, atingindo mais de 8 mil reais em castanha até agora na safra 2012-2013. Valor este que jamais poderia ter sido alcançado sem a parceria da Coopavam.
A parceria foi estimulada no âmbito do Projeto Poço de Carbono Juruena, realizado pela Associação de Desenvolvimento Rural de Juruena (Aderjur), com patrocínio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Ambiental. O projeto Poço de Carbono auxiliou a formalizar um apoio da Fundação Nacional do Índio (Funai) e da Empresa Águas da Pedra. Atualmente parte dos recursos do plano de compensação da hidrelétrica Dardanelos é investido no negócio da castanha na terra indígena Cinta larga. Por essa parceria foram construídos 11 barracões, além da doação de veículos.
“Este mesmo modelo deve ser expandido para outras comunidades e para outros produtos da floresta, como o óleo da copaíba, a borracha e o açaí”, comentou Arildo Suruí, Secretário da Metareilá, Associação do Povo Indígena Paiter Suruí. “O povo Suruí vai precisar muito desta experiência para desenvolver suas atividades de parceria com a Coopavam”, complementou.
“Há ainda que superar algumas dificuldades, como as estradas precárias na terra indígena que dão acesso aos castanhais”, explica Lauriano Martins, CTL da Funai. “As lideranças indígenas ainda sofrem pressão de madeireiros ilegais e que são contrários a qualquer trabalho de organização do povo indígena”, complementou.
“Os Cinta Larga estão conseguindo vender sua produção para a Coopavam porque tiveram uma decisão coletiva e se organizaram para isso”, explicou Paulo Nunes, coordenador do Projeto Poço de Carbono Juruena. “Comunidades que não se organizaram para trabalhar de forma coletiva continuam vendendo castanha para atravessadores por preços muito inferiores aqueles praticados pela Coopavam”, complementou. Além dos Cinta Larga, os povos indígenas Apiaká, Caiaby, Munduruku e Suruí têm trabalhado nesta parceria com agricultores familiares da Coopavam.
Sobre o intercâmbio
O intercâmbio, realizado este mês no Noroeste de Mato Grosso, teve como objetivo fortalecer a capacidade indígena para a geração de renda alternativa e agregação de valor, além de permitir a troca de experiências em desenvolvimento de Sistemas Agroflorestais e Manejo de Produtos Florestais Não Madeireiros. Promovido pela Equipe de Conservação da Amazônia (ECAM) e pelo Forest Trends, com apoio da Associação de Desenvolvimento Rural de Juruena (ADERJUR), que desenvolve o Projeto Poço de Carbono Juruena, patrocinado pela Petrobras, por meio do Programa Petrobras Ambiental. A Associação Metareilá, do Povo Indígena Suruí, de Rondônia e a Associação do Povo Indígena Jiahui – APIJ, do Amazonas, também participaram do encontro.
Saiba mais sobre o projeto Poço de Carbono Juruena
O projeto Poço de Carbono Juruena teve início em janeiro de 2010 e além de envolver mais de 260 famílias de Juruena tem a meta de plantar um milhão e quinhentas mil mudas de espécies frutíferas e florestais nativas da Amazônia. A adesão dos agricultores ao projeto é espontânea e vem aumentando com os resultados obtidos pelas famílias que já participam. Além das mudas, os agricultores recebem orientação técnica, capacitações, insumos e participam de intercâmbios em outras experiências consolidadas na região. Outro importante trabalho relacionado à redução de emissões de carbono vem sendo realizado pelo projeto através do uso de uma serraria portátil, que aproveita a madeira morta das roças e pastagens.
Além da formação dos sistemas agroflorestais, o projeto incentiva também a COOPAVAM e a AMCA, que trabalham com a castanha do Brasil e seus derivados. Para garantir a sustentabilidade, os técnicos do projeto ajudam a viabilizar projetos com instituições como a CONAB. Além disso, empresas como a Natura Cosméticos também fazem parte desta iniciativa. O objetivo final deste trabalho é garantir a conservação da floresta, através da valorização de produtos florestais não madeireiros e do uso múltiplo dessas áreas.
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Parceria entre agricultores familiares e indígenas de Mato Grosso é apresentada em intercâmbio
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terça-feira, 28 de maio de 2013
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