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Agricultores familiares e entidades governamentais se reúnem para discutir soberania alimentar em Mato Grosso

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Gias - “Comida de verdade no campo e na cidade: por direitos e soberania alimentar”, esse é o lema da IV Conferência Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional - Cesan, organizada pelo Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional em Mato Grosso – Consea / MT, nesta quinta (20) em Cuiabá. A conferência, contando com a participação de várias associações de pequenos agricultores e entidades governamentais, pretende abordar os avanços e os obstáculos enfrentados na luta para conquistar uma alimentação adequada e saudável, base da soberania alimentar.

Nessa perspectiva, quando se fala de saúde e soberania alimentar, torna-se imprescindível abordar a questão dos agrotóxicos. Na parte da manhã, Franciléia Paula de Castro, agrônoma e técnica da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional – Fase e representante da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, apresentou o “Dossiê Abrasco: Um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde”, lançado em Mato Grosso, no mês de julho. O Dossiê, que relata lutas e apresenta pesquisas para a redução do uso de agrotóxicos e pela superação do modelo agrícola atual – o agronegócio, junto com o Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos – Pronara, foram entregues ao governador Pedro Taques.

Durante a conferência, o secretário Estadual de Agricultura de Mato Grosso, Suelme Fernandes, declarou que não existe nenhum veto por parte do governo em discutir a utilização de agrotóxicos. Na sequência, outros problemas enfrentados pela agricultura familiar agroecológica, como a ausência de incentivos econômicos, de assistência técnica, de ajuda à comercialização para a agricultura familiar e de falta de água, foram abordados.

Depois de várias apresentações, Renato Maluf, professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ, membro e ex-presidente do Consea, disse que se sente esperançoso ao ver que foi possível realizar uma conferência desse porte, com tantas regiões representadas, em um estado dominado pelo agronegócio. O professor considera que é um passo importante no desenvolvimento de estratégias para garantir a soberania alimentar através do fortalecimento da agroecologia e da agricultura familiar, propondo uma alternativa à hegemonia desse sistema baseado no monocultivo. “No entanto, para que essa luta seja viável, é necessário o apoio do governo federal, estadual e o apoio dos municípios. A população mato-grossense está cada vez mais sensível ao fato que o governo não investe em uma produção de alimentos saudáveis adequados à sua realidade”, advertiu Renato. O professor explicou também que a legitimidade social da agroecologia depende em muito da elaboração de politicas públicas, ganhando assim a consideração da mídia para propor um debate mais complexo do que aquele apresentado hoje pelo agronegócio.

Entre as experiências apresentadas durante o dia, está a de Rita Júlia Zocal, presidenta da Associação Regional das Produtoras Extrativistas do Pantanal – Arpep, associação membro do Grupo de Intercâmbio em Agroecologia – Gias. Rita apresentou os avanços alcançados na organização produtiva, com assessoria da Fase e explicou que ainda existem muitas dificuldades para organizar e melhorar a produção e comercialização . “Quando vejo que o lema desta conferência é ‘comida de verdade, no campo e na cidade’, percebo que não todos têm esse direito, pois há muito pouca assistência e incentivos para nós, pequenos agricultores. Então, como o pequeno pode continuar garantindo mais de 70% da alimentação dos brasileiros, se não há apoio nesse sentido?”, indagou Rita.

No mesmo contexto, Nério Gomes de Souza, da Associação Regional de Produtores Agroecológicos – Arpa, associação também membro do Gias, expressou sua preocupação. “Além de todos os problemas que nossa agricultura familiar enfrenta, em Roseli Nunes, nosso assentamento, uma mineradora ameaça nos expulsar e destruir tudo o que construímos com tanto esforço. Nossa prioridade, e tem que ser a do governo, é preservar a vida. Por exemplo, no caso dos agrotóxicos, deveriam ser proibidos, já que eles são a morte”, concluiu o agricultor.

O primeiro dia da conferência terminou com grupos de trabalho por eixos temáticos, abordando os temas de estratégias para a soberania e segurança alimentar e nutricional e o fortalecimento do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional no estado. O evento, realizado no Hotel Fazenda Mato Grosso, termina nesta sexta-feira (21), com a elaboração de uma Carta Política e a eleição dos delegados que participarão da V Cesan.

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