As mudanças climáticas são uma realidade constatada por cientistas e sentida pela população mundial. A discussão, cada vez mais crescente, é de como enfrentar seus efeitos e principalmente como minimizá-los. Em regiões com grandes áreas de floresta é estratégico conservar a floresta em pé, mas também a recuperação de áreas degradadas tem uma importância ímpar na regulação do clima e preservação da biodiversidade. Mato Grosso não foge a essa regra e por isso várias iniciativas de conservação e recuperação de áreas estão sendo implementadas pelo poder público, iniciativa privada e entidades do terceiro setor.
Um desses esforços, que alia conservação da biodiversidade com recuperação de áreas degradadas e geração de renda, vem sendo desenvolvido na região Noroeste de Mato Grosso. O projeto Poço de Carbono Juruena, executado pela Associação de Desenvolvimento Rural de Juruena – ADERJUR com o patrocínio do Programa Petrobras Ambiental tem como objetivo demonstrar a viabilidade técnica e econômica de seqüestro de carbono por meio da implantação de Sistemas Agroflorestais – SAFs. Voltado para pequenos e médios produtores do município de Juruena, o projeto foi concebido como uma proposta de desenvolvimento rural e conservação ambiental que tem como alavanca uma possível venda futura de créditos de carbono.
Focar a mitigação climática na agricultura familiar e na geração de renda é uma oportunidade bastante promissora, pois ao mesmo tempo em que valoriza um ator fundamental na Amazônia e no Brasil dá um estímulo a mais para o agricultor recuperar sua área. Ou seja, além de ter a possibilidade de vender créditos de carbono ele também produz e recupera. Para atender as exigências que regulam os Mecanismos de Desenvolvimento Limpo – MDL, os sistemas agroflorestais são desenvolvidos em áreas abertas pelos agricultores antes de 1990.
Cento e cinqüenta famílias das comunidades Assentamento Vale do Amanhecer, Gleba 13 de Maio, Comunidade Santo Antônio, Linhas: Sapucaia, Sorriso, Jota, Monte Azul e Vale do Canamã participam do projeto, que tem quatro modelos de SAFs (Quintais produtivos, cafezais com sombreamento, palmeiras e silvopastoris). Os modelos foram desenhados pela equipe técnica para garantir o interesse dos agricultores, levando em conta critérios como geração de renda, agregação de valor, acúmulo de biomassa, sustentabilidade ambiental, segurança alimentar e tradição com a cultura. O resultado esperado é recuperar pelo menos 660 hectares com esses sistemas além de evitar o desmatamento de outros sete mil hectares.
Pelos cálculos do projeto mais de 295 mil toneladas de CO2 serão sequestradas ao final de 21 anos considerando apenas a utilização dos sistemas agroflorestais. A adoção dessas técnicas pelos agricultores – e o consequente aumento na geração de renda - deverá inibir a necessidade de abertura de novas áreas e o desmatamento evitado reduzirá a emissão de mais de um milhão e meio de toneladas de CO2.
Com pouco mais de seis meses de execução o Poço de Carbono Juruena vem somando forças com parcerias da iniciativa privada, com outras entidades e com o poder público local, investindo em ações de Educação Ambiental e apoiando formas de organização social em torno do planejamento e gestão para conservação de reservas legais e recuperação de áreas degradadas. O resultado já é visível no município e também na região noroeste, onde diversas famílias têm demonstrado o interesse em desenvolver um projeto como o Poço de Carbono Juruena.
O grande mérito da iniciativa é envolver a agricultura familiar na discussão das mudanças climáticas e mostrar que boas idéias surgem e os resultados acontecem quando se alia a necessidade do ser humano com a necessidade ambiental. Sempre foi possível aliar a produção com a conservação ambiental, ainda que por décadas a humanidade tenha tentado ignorar... Agora, mais do que possível, este é o único caminho a seguir.
A agricultura familiar e as mudanças climáticas
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terça-feira, 13 de julho de 2010
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