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Marcha da Romaria dos Povos e Comunidades do Cerrado consegue reuniões com órgãos

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Assessoria Gias - “Que país é este, que mata a gente, que a mídia mente e nos consome?”, escutava-se pelas ruas do Centro Político Administrativo de Cuiabá na tarde desta terça feira (01), quando cerca de 300 pessoas marchavam celebrando a 1ª Romaria dos Povos e Comunidades do Cerrado: Um grito dos excluídos na cidade e no campo do Mato Grosso. A celebração, organizada pela Comissão Pastoral da Terra – CPT/MT e pelo Centro Burnier Fé e Justiça – CBFJ, juntou dois acontecimentos do mês de setembro: o Grito dos Excluídos (07/09) e o Dia do Cerrado (11/09).

O objetivo da Romaria, que acontece até segunda (07), é chamar a atenção sobre os perigos, ameaças e injustiças do sistema político e econômico imposto pelo agronegócio e a matriz energética. “Um sistema corrupto, que destrói o meio-ambiente e condena os povos e comunidades que nele não se encaixam, além de ameaçar a os direitos dos brasileiros”, ouvia-se nas fileiras dos romeiros.

A marcha, que partiu às 14h da praça Ulisses Guimarães, teve cinco paradas em frente aos órgãos governamentais. Os romeiros plantaram cruzes, com reclamações e reivindicações em frente às sedes do Instituto de Terras de Mato Grosso – Intermat, da Federação da Agricultura e Pecuária do estado de Mato Grosso – Famato, da Secretaria de Estado de Educação – Seduc, da Secretaria Estadual do Meio Ambiente – Sema, do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso – TJMT, do Palácio Paiaguas, do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – Incra, e da Fundação Nacional do Índio – Funai, finalizando com o Fórum da comarca de Cuiabá.

Entre as principais reivindicações, estava o cuidado com o Cerrado, “caixa d’água” do continente sul-americano, e com os povos e populações que nele vivem. “Nosso bioma mais antigo está morrendo. Isso não afeta somente o meio-ambiente e as populações do Cerrado, mas principalmente as cidades e o resto do Brasil, já que todos dependem dessa água”, disse Cristiano Apolucena, coordenador regional da CPT. Ele explicou que os responsáveis por essa situação de degradação são as grandes empresas hidrelétricas, os grandes fazendeiros do agronegócio e os órgãos públicos que não cumprem com seu dever. Isso implica que, além das questões ambientais, existem muitos conflitos sociais pela posse de terras.

Entra então outra problemática principal da Romaria, a violência no campo e a luta pelo trabalho, pela terra e pela vida. Entre 2000 e 2014, cerca de 20 mil famílias foram despejadas pelo poder judiciário do estado, muitas vezes com brutalidade policial ou de fazendeiros em disputas pela ocupação e posse de terras. “A situação no campo é muito difícil. Além dos despejos, a violência vem aumentando. Só em 2014, cinco lideranças camponesas foram assassinadas”, disse o padre e coordenador regional da CPT, Paulo Cesar Moreira Santos.

A terceira parada da caminhada foi em frente à sede do governo de estado, o Palácio Paiaguas. O governador Pedro Taques, que mandou fechar os portões da sede, foi vaiado pelas centenas de pessoas, enquanto uma cruz era amarrada as grades da entrada. Pedro Taques, que tinha se comprometido em estabelecer um governo de diálogo e causar uma revolução na reforma agrária, é acusado de não cumprir sua palavra, favorecendo o agronegócio, que teria financiado sua campanha, excluindo assim grande parte da população.

A quarta parada da marcha foi em frente às sedes do Incra e da Funai, onde os romeiros expressaram seu apoio à greve dos funcionários do Instituto e acusaram os órgãos de não cumprirem com seus deveres, como a aplicação da reforma agrária ou a demarcação justa de terras indígenas.

A caminho da última etapa da marcha, as lideranças da Romaria ficaram sabendo que os representantes do Incra e do governo de estado se comprometeram em recebê-los, ainda esta semana. “A rua é o lugar! Temos que ocupar ruas, praças, e órgãos para sermos ouvidos”, celebravam os participantes.

O Fórum da Comarca de Cuiabá foi o palco final de outra das principais reivindicações dos romeiros: a corrupção e violência do sistema judiciário de estado. Adriana Sant’Anna Coninghan, juíza da Vara Agrária, também chamada “Rainha do Despejo”, é acusada de abuso ao emitir, só em 2015, 28 liminares de despejo contra trabalhadores rurais sem terra. “Entre 2000 e 2014, foram quase 20 mil famílias camponesas despejadas, mais de 120 no ano passado. Que justiça é essa? Que país é este...” gritavam os participantes, ao plantar a última cruz da caminhada.

O primeiro dia da romaria e da semana da cidadania acabou com uma homenagem a aqueles mortos na luta pelos direitos de todos.

As lideranças dos movimentos que participaram da Romaria estão acampadas em frente ao Palácio Paiaguas e à sede do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, conseguindo até agora que a agenda de reuniões com os órgãos de governo fique da seguinte maneira: reunião com o Incra nesta quinta-feira de manhã (02), com o governador Pedro taques, nesta sexta-feira (03), e com Adriana Queiroz de Carvalho, procuradora geral da fazenda nacional, no dia 08/09.

Além da CPT e do Centro Burnier, a Romaria, que se estende até o dia 07, contou com a participação da Associação Brasileira de Homeopatia Popular, das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, da Conferência dos Religiosos do Brasil – CRB, da Consciência Negra, do Conselho Indigenista Missionário – Cimi, da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional – Fase, do Fórum Mato-Grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento – Formad, do Grupo de Intercâmbio em Agroecologia – Gias, do Levante Popular da Juventude, do Movimento RUA, do Movimento de Luta pela Terra – MLT, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, da Paróquia Sagrada Família e do Centro de Estudos Bíblicos – Cebi.

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