Está operando em fase de testes a primeira usina de beneficiamento de óleo de castanha-do-Brasil em um assentamento de Mato Grosso. Instalada na Cooperativa de Agricultores do Vale do Amanhecer (Coopavam), em Juruena, noroeste do Estado, a extração vai incrementar a renda dos funcionários e melhorar a receita da Cooperativa, sensibilizando as pessoas da região para o alto valor da floresta em pé. A expectativa é que a produção do óleo supere as 15 toneladas em 2012.
Além do óleo de castanha, a Coopavam irá continuar a beneficiar a castanha sem casca, hoje comercializada para três empresas de gênero alimentícios no Brasil e também para a CONAB, por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Em três anos de funcionamento, a cooperativa está ajudando a transformar a realidade do assentamento Vale do Amanhecer, que possui cerca de 250 famílias em 14 mil hectares, sendo que a metade da área é Reserva Legal. “Nós aprendemos a ter mais cuidado com a nossa reserva legal, pois está possibilitando que geremos renda a partir da floresta em pé”, explica Irineu Bach, gerente de produção da Coopavam.
Toda a produção do óleo da castanha já tem um destino certo: a Natura Cosméticos, que possui uma linha de produtos baseada na amêndoa. Para produzir um produto de qualidade aprovada pela empresa, parte da equipe foi a Belém (PA) conhecer a indústria da Natura, além de conhecer o processo de beneficiamento da amêndoa. “A gente aprendeu nessa visita a fazer todo o processo de montagem, limpeza, uso e manutenção das máquinas”, explica Irineu.
Criada em 2008, exclusivamente por agricultores assentados, a Coopavam contou com apoio do governo de Mato Grosso e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), por meio do Projeto de Conservação e Uso Sustentável das Florestas no Noroeste do Mato Grosso. O apoio ajudou a viabilizar a construção da sede e a aquisição da usina de óleo. Com o esforço dos cooperados e funcionários, que hoje gira em torno de 18 pessoas e pode chegar a 30 em 2012, a cooperativa atraiu novas parcerias como a CONAB e os projetos Pacto das Águas e Poço de Carbono Juruena, ambos patrocinados pela Petrobras, por meio do Programa Petrobras Ambiental.
Executado pela Associação de Desenvolvimento de Juruena – ADERJUR, o Poço de Carbono Juruena apoiou a Coopavam em capacitações, na logística da castanha-do-Brasil e principalmente na formalização de novas parcerias, como a própria Natura Cosméticos. “Estão entre os nossos objetivos apoiar alternativas econômicas e a gestão de organizações como forma de incentivar a recuperação de áreas degradadas e a conservação da floresta”, explica Paulo Nunes, coordenador do Poço de Carbono Juruena.
Como a oferta da castanha-do-Brasil é limitada dentro do assentamento, diversas parcerias estão sendo firmadas para garantir a demanda do produto. Uma parceria importante está sendo costurada com o projeto Pacto das Águas, desenvolvido pelo Sindicato dos trabalhadores Rurais de Aripuanã, que desde 2007 vem construindo alternativas de desenvolvimento econômico com os índios Zoró e com os seringueiros da Reserva Extrativista Guariba-Roosevelt. Juntos, essas populações abrangem uma área de 480 mil hectares, distribuída em 1 Terra indígena e 1 RESEX, com uma população de 1700 pessoas. A expectativa é firmar uma proposta de comercialização dessas comunidades, que produzem em média 150 toneladas de castanha com casca por ano, com a Coopavam.
Parceria com empresa gera frutos
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Diretor da Rohden, Apolinário Stühler Fotos: Laércio Miranda |
O diretor da empresa, Apolinário Stühler, explica que a fazenda é vizinha à área de Reserva Legal do Vale do Amanhecer e que viu com bons olhos a parceria até porque mantém boa relação com os agricultores, principalmente com aqueles que já trabalharam na empresa. Como a fazenda já é certificada pelo FSC, foi feita também a certificação orgânica da castanha dessa área pelos agricultores com a Ecocert Brasil, que também certificou há 3 anos a produção da Coopavam no assentamento. “A certificação garante uma boa procedência e poderá agregar valor a castanha”, explica o empresário especializado em produzir portas e móveis para jardim.
Para Stühler iniciativas como a da cooperativa são fundamentais para o desenvolvimento da região, principalmente àquelas iniciativas que garantam a floresta em pé. “Não existe indústria madeireira sem floresta em pé”, comenta explicando, como resolveu dois grandes problemas econômicos e ambientais de uma só vez.
Em 1997 adquiriu uma usina para geração de energia a partir de todo resíduo produzido na industrialização da madeira. Além de dar um destino ambientalmente correto ao resíduo, chega a economizar até 100 mil litros de diesel ao mês, que era consumido pela indústria, antes da usina. Como a empresa utiliza apenas cerca de 50% do que é produzido, o restante da energia é comercializado a outras empresas da região, inclusive outras madeireiras, além de doar energia para as casas de seus funcionários, para o parque e para o clube do município de Juruena. Por conta desta iniciativa de substituição da matriz energética, a empresa recebe pagamento pela prestação de serviço ambiental (créditos de carbono), por reduzir emissões de carbono e gerar energia a partir do uso de combustível de fonte renovável.
A iniciativa da Rohden sensibilizou outros proprietários rurais da região que também estão começando a permitir a entrada dos agricultores do Vale do Amanhecer para a coleta da castanha. “O que nós estamos presenciando em Juruena é um novo modelo de desenvolvimento onde a floresta deixou de ser vista como um empecilho ao desenvolvimento e passa a ter o seu reconhecimento como aliada no progresso da região”, avalia Paulo Nunes, coordenador do projeto Poço de Carbono Juruena.
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