Poço de Carbono Juruena - A recuperação da Reserva Legal das propriedades rurais por meio da implementação de sistemas agroflorestais (SAFs) é uma medida legal que permite o manejo de espécies madeireiras e o cultivo de diversas espécies. Apoiar esse tipo de recuperação é uma das ações do projeto Poço de Carbono Juruena, desenvolvido no município pela Associação de Desenvolvimento Rural de Juruena (ADERJUR) com o patrocínio do Programa Petrobras Ambiental.
Para incentivar e explicar as diversas possibilidades de recuperação de reservas com SAFs, foi realizado nos dias 27 e 28 de outubro o 2º Seminário de Serviços Ambientais e Recuperação de Reserva Legal com Sistemas Agroflorestais no Centro de Referência e Assistência Social de Juruena (CRAS). Participaram do encontro cerca de 80 pessoas, entre agricultores familiares, pesquisadores e educadores.
Para Paulo Nunes, coordenador técnico do projeto Poço de Carbono Juruena é possível gerar renda com a exploração de culturas na reserva legal das propriedades, além de ajudar a promover sequestro de carbono e garantir segurança alimentar. O projeto já cadastrou 190 famílias do município interessadas em recuperar áreas degradadas, que recebem apoio técnico, sementes e mudas para efetuar a recuperação.
“O uso de sistemas agroflorestais gera diversos serviços ambientais como a conservação da biodiversidade, seqüestro de carbono, manutenção dos mananciais e conservação do solo, além de ser uma alternativa ao modelo econômico da região, pautado na pecuária de corte, com baixo valor agregado e que estimula uma alta taxa de desmatamento”, aponta o coordenador. Até 2008, estima-se que 42% do município tenha sido desmatado e o ritmo de desmatamento segue a uma taxa de 2% ao ano.
“Das atividades que o projeto incentiva, pelo menos o cultivo da pupunheira para a produção de palmito e o manejo de castanha-do-Brasil é possível ter renda por hectare muito superior a pecuária de corte”, explica. No caso da pupunha é possível plantar até 5 mil mudas por hectare gerando uma renda de mais de 4 mil reais líquidos por ano.
Para o engenheiro agrônomo Fabiano da Matta, mestre em Sistemas Agroflorestais, o maior desafio da implantação de SAFs é mental, ou seja a dificuldade não está na implementação mas sim na mudança de paradigma da agricultura de monocultivo. O engenheiro explica que cada bioma tem suas características específicas e a agricultura tem que se adaptar a cada região. “Os SAFs são uma forma de agricultura que imita a natureza onde é possível eliminar o uso de agrotóxicos, ter renda o ano inteiro e gerar alimentos para consumo humano e animal, além do manejo de produtos florestais”, argumenta. Entre os exemplos que podem ser cultivados na região ele cita diversas espécies de árvores, como a castanha-do-Brasil, a seringueira, além de pupunha, açaí, coco, cupuaçu, guaraná, cacau, café e mel.
Suzinei Silva Oliveira, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa-MT), destacou o avanço dos trabalhos realizados com SAFs em Juruena, como referência no Estado de Mato Grosso, principalmente no nível de organização social das comunidades rurais envolvidas no projeto Poço de Carbono Juruena. Suzinei comentou também sobre os avanços tecnológicos que a Embrapa já alcançou neste tema e do interesse do governo em apoiar iniciativas de recuperação de áreas de reserva legal com sistemas agroflorestais na Amazônia.
Já Ivan Dias, da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC), órgão ligado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) mostrou como o cacau é uma excelente planta para ser consorciada na região, que possui alto valor nutritivo, baixa mão-de-obra e gera renda praticamente o ano inteiro. “A procura é tão grande que paga-se à vista”, exalta. Ele explica que por precisar de sombra, existe uma variedade muito grande de espécies que podem ser consorciadas como a banana, café, urucum, cupuaçu, guaraná além de árvores como mogno, castanheira, cerejeira, pinho-cuiabano, entre outras.
Durante o seminário também foram abordadas técnicas silvopastoris, onde a criação de gado pode ter um incremento do lucro por meio do plantio de espécies madeireiras, e técnicas de cultivo de teca. O seminário contou com uma atividade prática de implantação de um sistema agroflorestal em duas áreas do Assentamento Vale do Amanhecer e a apresentação cultural de alunos e professores das Escolas municipais Arco Íris e Nossa Senhora de Fátima e Estadual Dom Aquino Correa.
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Vídeo Sistema Agroflorestais
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