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II Festival Juruena Vivo incentiva fortalecimento de comunidades indígenas e rurais

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

 Assessoria - O II Festival Juruena Vivo realizado nos dias 9 e 10 de outubro, em Juína, Mato Grosso, destacou, neste ano, o fortalecimento da representação e integração das comunidades indígenas e rurais da região coberta pelo rio Juruena. Neste sentido, também foram feitos alguns anúncios por Andrea Jakubaszko, da comissão organizadora do evento, entre eles, a criação de um programa de rádio do coletivo Rede Juruena Vivo e o início da assistência de grupo de advogados para questões judiciais que envolvam, principalmente, projetos de implantação de empreendimentos hidrelétricos na bacia e seus possíveis impactos socioambientais.

O evento foi organizado para celebrar e discutir temas envolvendo a mobilização em busca da conservação da bacia do rio Juruena onde vivem cerca de 500 mil pessoas e há 38 assentamentos, 11 povos indígenas em 20 territórios tradicionais reconhecidos. O sinal de alerta é decorrente da projeção de 102 projetos de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e hidrelétricas nesta região, de acordo com levantamento feito com base em dados de inventários da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Durante as atividades, um dos principais temas abordados foi o impacto local oriundo da construção de hidrelétricas. Depoimentos sensíveis marcaram o encontro, como o de Geraldo Terena e de Paulo Rikbakta. “As cabeceiras do rio já estão sofrendo. Será que quem está sentado nos escritórios, de gravata, está pensando na humanidade? A questão é a ganância…Áreas indígenas ficarão dentro d`água…Perto da Bacia do Prata, na Amazônia, o Juruena já está morrendo”, disse Geraldo.

Paulo reforçou a necessidade de se pensar nas próximas gerações. “Os rios Juruena, Arinos e do Sangue já estão sofrendo o assoreamento. Na região, começou a monocultura de soja. A nossa liberdade vai acabar…Enquanto os governantes não tiverem consciência disso, os nossos rios serão mortos. Nós, índios, sabemos nos expressar, temos nossa ciência. Usinas hidrelétricas e pequenas usinas hidrelétricas inundarão o que ainda não foi desmatado. Não podemos ficar parados”. No evento, também estavam presentes indígenas de outros povos, como Apiacá, Munduruku e Tibagi.

Elaine Lobato, da Associação de Moradores da Comunidade Fontanilla, às margens do Juruena, onde vivem 29 famílias, a 60 quilômetros de Juína, fez um apelo para que os moradores possam ser ouvidos. A área deverá ficar debaixo d´agua, de acordo com projetos hidrelétricos locais.

Durante o painel sobre recursos hídricos e desenvolvimento sustentável, o ictiólogo (especialista em peixes) Francisco de Arruda Machado, promotor público estadual de Mato Grosso, mais conhecido por Chico Peixe, alertou que existe um grande número de espécies raras de fauna e de flora no Juruena, que correm perigo. “Qualquer empreendimento careceria de plebiscito para a aprovação destes projetos…O que temos é uma sequência de lagos planejada. O Juruena, daqui algum tempo, será igual à realidade de São Paulo”, disse. Ele questionou a eficiência dos Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental. EIA-Rimas. “O EIA virou instrumento de licenciamento e não de validar o que é viável ou não”, disse.

No contexto do encontro, Carolina Jordão, analista de Gestão Ambiental do Instituto Centro de Vida (ICV), que compõe as organizações participantes da Rede Juruena Vivo, falou sobre o Programa Mato-Grossense de Municípios Sustentáveis (PMS) e explicou a importância de qualificar cada vez mais os debates, como as questões sobre recursos hídricos. Atualmente 53 municípios aderiram ao PMS e a iniciativa possibilita discussões sobre possíveis impactos socioambientais decorrentes de projetos de hidrelétricas, tendo em vista, que um dos seus eixos é o fortalecimento da gestão ambiental municipal.

Durante a programação, também houve o espaço de uma feira, na qual três agricultoras familiares de Cotriguaçu puderam comercializar seus produtos, como derivados do babaçu e da castanha, e indígenas da região levaram seus artesanatos.  Esta edição do evento ganhou um toque cultural com mostra fotográfica das águas, vídeos e Festival da Canção sobre o Juruena,  finalizado pelo violeiro Victor Batista.

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