Eu mesmo até fiz uma denúncia dias atrás, num incêndio nos arredores de casa. A informação que recebi do 193 era de que o Corpo de Bombeiros já estava ciente da situação por uma denúncia anterior. São tantos focos de incêndio em Cuiabá nesta época do ano que mesmo que os bombeiros tivessem um efetivo de pessoas e equipamentos multiplicados por dez, talvez não dessem conta.
Mas a resolução do problema, ao meu ver, passa longe de ser um problema exclusivo do Corpo de Bombeiros. Pois seria, no mínimo, insensatez haver um número gigantesco de bombeiros para um evento que acomete uma parte do país durante dois ou três meses do ano. Sensatez seria se as prefeituras investissem na formação de aceiros nas beiras das estradas e na criação de brigadas municipais contra incêndios, tanto de forma comunitária, como na de terceirizados temporários com capacitações – aí sim – feitas pelos bombeiros em épocas anteriores a estiagem.
Denunciar as queimadas é importante, mas como atender a todas elas ao mesmo tempo sem os recursos necessários? É outro ponto importante. Por que elas ocorrem? Ainda que possa haver um ou outro caso de um incêndio provocado por raios, como acontecem na Califórnia, nos Estados Unidos, nesta época do ano, a grande maioria dos incêndios no Brasil é intencional, seja para queimar o lixo, seja num acampamento desastroso, seja para limpar roças ou seja para abrir novas áreas para agropecuária, sendo esses dois últimos os grandes vilões em escala nacional.
E por que não se fala nisso? Porque os instrumentos de comando, controle e punição seja na prefeitura de Cuiabá ou Chapada dos Guimarães, no governo de Mato Grosso ou Goiás, ou até mesmo nos órgãos fiscalizadores do governo federal são fracos e andam ainda mais enfraquecidos, com poucos investimentos para fiscalização eficaz, que poderia ajudar a minimizar os efeitos da seca nesta época do ano.
Na falta de ações, instrumentos, pessoal e políticas eficazes, os governos, seja qual for, lança mão de uma arma quase sempre apelativa e geralmente pouco eficaz que é o de apontar o dedo contra a vítima e fazer do cidadão o vilão que não denunciou a queimada e que por isso ficou doente.
Não, a culpa não é minha. E com certeza a culpa não é sua, que não botou fogo, por nenhum motivo, e que sente, juntamente com sua família, os efeitos nesta época do ano. Tão bom seria se os culpados – excetuando possíveis ações climáticas – ao serem denunciados, fossem encontrados, multados e punidos. Mas quando um agente importante para que isso aconteça não faz a sua parte e ainda culpa outros setores é um sinal (não de fumaça, por favor), que o clima anda mesmo intragável.
André Alves é jornalista em Cuiabá
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