Últimas

Indígenas e agricultores que trabalham com a castanha amazônica trocam idéias e saberes

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Assessoria Poço de Carbono Juruena - Cerca de 300 indígenas e agricultores que vivem em região de floresta amazônica no Noroeste de Mato Grosso têm muitas experiências a trocar em três eventos concomitantes sobre extrativismo de produtos florestais não-madeireiros, marcados para os dias 6 e 7 de novembro. Todos os participantes de um seminário, um encontro e uma feira, que serão realizados no Parque de Exposições de Juruena, compartilham do mesmo ideal, que é o uso sustentável da biodiversidade amazônica, com foco no extrativismo e beneficiamento da castanha do Brasil e de hortaliças para a comercialização e consumo saudável.
Tanto indígenas quanto agricultores envolvidos nos projetos Poço de Carbono, Cultivação e Sentinelas da Floresta atuam integrados para a melhoria da renda doméstica da população local, através da qualificação para o trabalho e para a vida. O Poço de Carbono e o Cultivação são patrocinados pela Petrobras através do Programa Socioambiental. E o Sentinelas da Floresta é patrocinado pelo Governo Federal, através do Fundo Amazônia, e uma parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e com a Fundação Nacional do Índio (Funai).
Os projetos atendem, além dos agricultores, indígenas de quatro etnias – Apiaká, Munduruku, Kaiabi e Cinta Larga.
Os envolvidos nos projetos, ao mesmo tempo em que coletam a castanha, estão fiscalizando suas áreas de floresta na região, principalmente em dois territórios demarcados: Terra Indígena Cinta Larga, em Aripuanã, e Terra Indígena Apiaká-Kaiabi, em Juara.
“Este é um momento de integração, de troca de saberes e experiências. As lideranças desses grupos vão aproveitar para conversar sobre os avanços e dificuldades e achar os melhores caminhos para o fortalecimento dessas iniciativas inovadoras e fundamentais”,  explica o agrônomo Paulo César Nunes, coordenador dos projetos Poço de Carbono e Sentinelas da Floresta.
Também estão convidados para o evento representantes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Funai, Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat), Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), governos municipal e estadual e organizações sociais.

Seminário
A programação do II Seminário Sistemas Agroflorestais, Produtos Florestais Não-Madeireiros e Economia Solidária inclui, por exemplo, a palestra do indígena Daeit Akat Kaban, que vai falar sobre o manejo da castanha, as dificuldades encontradas até hoje e os desafios de agora em diante. A conversa agora ganha dimensão de mercado, porque, com a ação desses projetos, aumentou a escala de produção dos produtos da castanha e é hora de pensar qual o preço justo, quais os públicos almejados, quais os cuidados a serem tomados na consolidação dessa atividade, como melhorou a renda dos envolvidos e também a gestão do território deles na Amazônia.
Encontro de mulheres
O II Encontro de Mulheres Rurais e Indígenas do Noroeste de Mato Grosso foi pensando pelas agricultoras do projeto Cultivação, que atua junto ao público feminino.
A assistente social do projeto, Elaine da Silva Raash, comemora esse um ano de capacitação e muito trabalho. “Estamos fazendo vários cursos com essas mulheres, principalmente sobre hortas agroecológicas e informática, corte e costura e até mesmo sobre inclusão de gênero”, destaca. Tanto é que no Encontro haverá uma mesa especial sobre violência doméstica. Conforme a assistente social, este é um assunto que interessa muito porque um dos objetivos do Cultivação é favorecer o protagonismo feminino e isso não é possível sem a garantia de direitos básicos.
Feira agroecológica
Na I Feira da Sociobiodiversidade do Noroeste de Mato Grosso cada projeto vai expor seus produtos e artesanatos, para venda e troca.
No palco, haverá apresentações culturais, como danças indígenas e dos estudantes filhos dos agricultores, e um desfile das mulheres indígenas e das agricultoras com seus artesanatos.
Iguarias como doces, bolos, almôndegas, tortas salgadas e outras, cujas receitas constam do livro Sabores dos Castanhais, serão vendidas em tendas.

Conquistas
A luta integrada dos projetos Poço de Carbono, Cultivação e Sentinelas da Floresta já viabilizou a instalação de duas fábricas, consolidadas dentro do assentamento Vale do Amanhecer, em Juruena. Uma terceira fábrica, que produzirá conserva de hortaliças será inaugurada neste mesmo assentamento, durante o evento.
A Cooperativa dos Agricultores do Vale do Amanhecer (Coopavam), que implementa o projeto Sentinelas da Floresta, trabalha a amêndoa, a farinha, o azeite e cereais da castanha.
Já a fábrica administrada pela Associação de Mulheres Cantinho da Amazônia (Anca),que executa o projeto Cultivação, produz macarrão e biscoitos de castanha.
Todos esses produtos têm um acabamento final cuidadoso, voltado em sua maior parte para o mercado institucional regional, bem como, para o mercado convencional nacional, para além da floresta e da região amazônica, uma vez que a castanha é um alimento que tem diversas propriedades nutricionais, entre elas a capacidade antioxidante do organismo, o que, segundo pesquisas, favorece o funcionamento geral dos órgãos e o tão almejado rejuvenescimento.
As fábricas já fornecem seus produtos para 42 mil pessoas da região noroeste de Mato Grosso, atendidas pelo Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), da Conab.
Diferentemente de outras localidades no Brasil, na região de Juruena, agricultores e indígenas convivem harmonicamente. “Em muitas localidades, cresce o ódio racial e a antipatia entre esses grupos que são ligados à terra e portanto deveriam se unir, como nós fazemos, para viver bem, juntos. Em um contexto geral, integração entre povos indígenas e agricultores existe em poucos lugares. A rivalidade entre eles é comum, mas aqui é o contrário, aqui as pessoas procuram se fortalecer e trocar experiências”, destaca Marcelo Munduruku, presidente do Instituto Munduruku.

Nenhum comentário

Postar um comentário

Veja também