Eliésio Marubo* - A presidente ou presidenta, como gosta de ser chamada, Dilma Rouseff esteve em Manaus para lançar o programa do governo federal chamado Brasil sem miséria e o “bolsa verde” com pretensão de retirar mais de seiscentos mil da miséria. O “bolsa verde” está embasado nos moldes do programa “zona franca verde” considerado pioneiro no Brasil como incentivo pago pelo estado do Amazonas à ribeirinhos para conservação da floresta Amazônica. Em tese é o pagamento por serviços ambientais aos povos da Amazônia, coisa que também defendo e apoio através do PL 5.586/09.
O programa lançado pela presidenta tem a pretensão de “pagar” à indivíduos que moram nos confins do Amazonas o valor de cem (100,00 R$) reais. Em contrapartida, o sujeito não desmata, não pesca para vender, e, não um monte de outras coisas mais. Afinal alguém que paga esses cenzinhos por mês não espera – nunca mais na história do país – ouvir algo sobre desmatamento, já que está “pagano”!
Em entrevista ao vivo à rádio Difusora de Manaus, a presidenta disse que: “essa ação do governo federal vai dar mais dignidade para o caboclo no interior do Amazonas”.
Por esse motivo, fiquei pensando no valor real desse “montante” pago aos povos amazônicos. Ainda que o valor, nesse caso, seja insignificante para quem mora na cidade, para quem mora no interior faz toda diferença na compra de bens de primeira necessidade, nesse caso, COMIDA.
Vamos aos fatos: Se o individuo passar a receber cem reais (100) do governo federal através do programa (genérico) "bolsa verde", e, na melhor das hipóteses, o mesmo indivíduo receber sessenta reais (60,00 R$) do programa zona franca verde (o original) do governo do estado, terá 160,00 R$ no final do mês. (olha, sei somar!). Pois bem, quem mora no interior, mesmo tendo disponível muitos recursos naturais, vai sempre à cidade comprar o “rancho” ou a conhecida cesta básica. O DIEESE divulgou em maio desse ano, o valor da cesta básica no Amazonas no valor de R$ 245, 54 (ver em http://www.portalamazonia.com.br/secao/noticias/amazonas/2011/06/03/custa-da-cesta-basica-de-manaus-reduz-em-maio-aponta-dieese/ ) . Com isso os R$ 160,00 acabariam já no inicio da empreitada cabocla rumo à cidade. Isso sem incluir gastos com a gasolina do pec-pec, aquele motorzinho conhecido pelo nome de rabeta, do qual é bem utilizado pela população nas canoinhas típicas daqui. Nem vamos aos pormenores, tão importantes quanto a compra do básico nesse caso.
Na contramão dessa informação tem o regatão (uma espécie de supermercado ambulante que viaja os rios amazônicos trocando mercadoria industrializada pelo bem produzido nas comunidades ribeirinhas), que não se importa em receber parte do pagamento em alguns quilos de carne de caça, palmito, toras de madeira e tudo que, em tese deveria ser combatido com os programas governamentais iguais ao que a presidenta acabara de lançar.
Nossa reflexão é apartidária e por esse motivo, cita uma entrevista com o deputado federal oposicionista Pauderney Avelino no jornal Acrítica, publicado também no dia de hoje que diz: que o governo deve pensar em criar políticas públicas que realmente façam a diferença na vida do interiorano. (http://acritica.uol.com.br/manaus/Bolsa-Verde-marketing-acusa-DEM_0_562743770.html) Sob esse panorama, vejo que esse circo armado em cima do amazônida é mais um que pretende visionar o futuro bem próximo, tão próximo que arrisco dizer só o ano: 2012!
Portanto, bolsa verde ou bolsa voto a realidade é essa! Tomara que não precise senão, tô fumado!
* Eliésio Marubo - Movimento Indígena Vale do Javari
Publicado originalmente no site do GTA
Nenhum comentário
Postar um comentário