Keka Werneck/Assessoria - Aumentou em 190% a comercialização de agrotóxicos no Brasil nos últimos 10 anos, conforme dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Quem informa é a advogada Letícia Rodrigues, gerente de Normatização e Avaliação da ANVISA em Brasília. Ela está entre os debatedores do Seminário Estadual de Lançamento da Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e Pela Vida, que está sendo realizado entre hoje (2) e amanhã (3), no auditório da ADUFMAT (Campus Cuiabá da UFMT). Esse dado sinaliza para a urgência da discussão sobre o modelo agrícola predominante - o agronegócio - e o combate do uso de venenos nas lavouras.
O coordenador Nacional da Campanha, Cléber Folgado, explica que o lançamento da campanha em Mato Grosso é muito significativo porque “chega ao coração do agronegócio e ao estado campeão em uso de venenos”.
Segundo ele, esta campanha é estruturada em quatro eixos: construção com a sociedade, construção com as bases de militância e agricultores, eixo jurídico e legislativo e formação técnica, que envolve pesquisas científicas, apropriação de técnicas como, por exemplo, a agroecologia.
Segundo Folgado, Mato Grosso consome por pessoa 50 litros de agrotóxicos por ano; e no Brasil; 5,2 litros. “Quem já tomou sua dose hoje?”, ironizou, destacando que todos nós ingerimos venenos, diariamente, ao nos alimentarmos.
O procurador do Ministério Público do Trabalho (MPT) na Bahia, Pedro Serafim, coodenador do Fórum Nacional de Combate aos Impactos dos Agronegócios, que também está presente no seminário, afirma que, em todo o país, há um descumprimento quase que generalizado da legislação vigente que rege o setor.
Conforme Raul Ristow, da Direção Nacional do Movimento de Pequenos Agricultores (MPA) e da Via Campesina, a discussão sobre o agronegócio parece contemporânea, mas esse é um modelo predominante no mundo desde 1500, quando Portugal “invadiu” o Brasil, dividindo a nação em capitanias hereditárias, que nada mais eram do que imensas propriedades rurais.
A doutora em Ciências, Michèle Sato, destacou as desigualdades na alimentação. Enquanto na Alemanha uma família tem um gasto de 500 dólares com a alimentação, no Chade, país africano, isso se reduz a 1,35 dólares. Segundo Sato, a ordem positivista assimilada pela sociedade do “American way of life” mudou os paradigmas da sociedade: no lugar dos elementos da natureza entraram em cena a competição, o individualismo e a promoção da exclusão.
Um dos objetivos centrais desta campanha é melhorar a alimentação do povo brasileiro e erradicar a fome.
Conforme Letícia Rodrigues, da ANVISA, nos últimos dados sobre índices de agrotóxicos presentes em alimentos muito utilizados na mesa do brasileiro ficou patente a contaminação da nossa refeição básica. “O pimentão apresentou 80% de contaminação e outros alimentos também apresentaram alto índice, como o pepino, a uva, o tomate, o morango”.
Folgado destacou que o que está em pauta são os modelos antagônicos de produção agrícola. O modelo de morte, do agronegócio, que tem os agrotóxicos como suporte para garantir o lucro, e o da vida, ou seja, a agricultura familiar, que garante alimentos saudáveis e diversificados.
Campanha contra agrotóxicos chega ao ‘coração’ do agronegócio
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quinta-feira, 2 de junho de 2011
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