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João Maltezo: uma história de luta

segunda-feira, 21 de março de 2011

A Reserva Extrativista Guariba Roosevelt, criada em 1996 é a única no estado de Mato Grosso e teve um personagem fundamental para que ela pudesse ser criada. Além de pesquisadores, gestores governamentais e técnicos, foi a visão um pequeno agricultor, vindo do interior de Santa Catarina que ajudou a garantir a área para as famílias tradicionais. João Maltezo fundou e foi o primeiro presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Aripuanã, por volta de 1985.

“Eu viajava por aqueles rios (Guariba e Roosevelt) e via a situação dos seringueiros e sabia que tinha espertalhões loucos para pegar as terras de lá e então eu pensei que seria bom deixar a beira dos rios que estão lá há mais de 50 anos”, afirma Maltezo com humildade. Para conseguir essa garantia ele diz que “batalhou” para criar a reserva, ajudando a formar a primeira associação do Guariba e buscou contatos com a Universidade Federal de Mato Grosso e com o Instituto de Terras de Mato Grosso (Intermat).

“Eu fiquei com dó deles porque eles poderiam ser jogados fora a qualquer momento. Havia muitos inimigos contra a criação da reserva que faziam terrorismo dizendo que os moradores nunca iriam poder vender as terras”, comenta. “Mas se dessem um lote para cada um os seringueiros iriam acabar indo para uma favela em Aripuanã”, complementa.

Antes da criação da RESEX, João Maltezo afirma que buscou parcerias para criar uma escola de alvenaria. “Nós íamos buscar as crianças de canoa nas férias e depois levava de volta, fizemos um alojamento meio provisório, com as crianças internadas, dando comida e tudo”, orgulha-se, ainda mais pelo fato de que alguns desses alunos são atualmente professores na reserva. “Eles eram analfabetos e agora são professores”, diz.

Outra dificuldade que Maltezo ajudou a combater foi a malária que ainda é comum na região. Ele afirma ter lutado muito e buscado recursos para garantir o tratamento de muitos extrativistas e outros agricultores da região. “Teve até um médico que me confessou depois que eu quase o levei a falência, dizendo que trabalhou de graça e deu muitos remédios para as pessoas que não tinham condições de comprar por causa daquele velho que o forçava a tratar os doentes. Esse velho sou eu”, alegra-se.

Ele acredita que a criação da Reserva em 1996, com apoio do Programa de Desenvolvimento do Agronegócio (Prodeagro) e a sua ampliação em 2007 foram fundamentais para a permanência dos seringueiros na região. No entanto, Maltezo acredita que ainda são necessários muitos investimentos para garantir uma qualidade de vida digna aos seus moradores. Outra medida que ele acredita ser importante é a delimitação da área porque, segundo ele, já está começando a ter invasores na área.

Mesmo tendo sido fundamental para a criação da RESEX, Maltezo mantém a humildade de quando chegou a Aripuanã em 1981. “Desde pequeno, lá no sul, eu já era meio ambientalista no meu pensamento”, diz. Numa propriedade de 46 alqueires ele mantém uma horta e cria gado de corte, mas sua paixão desde criança é a criação de abelha. João Maltezo é conhecido no Noroeste por ter um dos melhores mel da região.

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