André Alves*
Os focos de calor se alastraram por todo o país nas últimas semanas e se multiplicaram na Amazônia. Somente em Mato Grosso, no período de janeiro a julho de 2010, o aumento foi de 440% em relação ao mesmo período do ano passado. 5.173 focos de calor, contra 954. Já o mês de agosto, somente nos dez primeiros dias foram registrados 3.736 focos e teremos novamente um triste recorde. A região está destruindo riquezas naturais raríssimas, gerando empobrecimento e problemas sócio-ambientais complexos que podem ser irreversíveis num futuro próximo. A situação está caótica na zona urbana e rural onde a fumaça é tamanha que parece uma forte neblina e o resultado disso são inúmeros prejuízos de ordem ambiental, econômica, política e de saúde.
No noroeste de Mato Grosso as queimadas devastaram pastagens e em muitos casos atingiram áreas de floresta gerando um prejuízo econômico difícil de calcular, ainda mais porque em boa parte dos casos as queimadas estão apenas controladas. A situação é tão drástica que não é difícil encontrar agricultores que abandonaram suas propriedades e que não sabem como vão sobreviver daqui pra frente.
É certo que a seca deste ano está bastante atípica, embora um período de estiagem maior sempre aconteça em períodos mais ou menos regulares. Esta seca acentuada mostrou a fragilidade dos mecanismos de comando e controle do Estado e também que a sociedade, de um modo geral, não está preparada para lidar com situações como a que está ocorrendo.
Neste cenário de desastres ambientais, muito pouco tem se falado sobre alternativas ao uso do fogo uma vez constatado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) que 59% dos focos de calor deste ano, em Mato Grosso, se concentram em propriedades rurais que em sua maioria não estão cadastradas no Sistema Integrado de Monitoramento e Licenciamento Ambiental (SIMLAM). Técnicas e tecnologias existem e experiências bem sucedidas são encontradas de norte ao sul do Brasil.
No Noroeste de Mato Grosso, agricultores como sr Dirceu Dezan, em Juína ou do sr Luizão, em Cotriguaçu provam que é possível, por meio da diversificação da produção abandonar de vez o uso do fogo. Plantando espécies de crescimento variado e de temporalidade diferentes a produção é contínua, a rentabilidade da área é maior e a fertilidade do solo é enriquecida.
Em Juruena, o projeto Poço de Carbono Juruena, executado pela Associação de Desenvolvimento Rural de Juruena – ADERJUR com o patrocínio do Programa Petrobras Ambiental sensibilizou 165 agricultores de dez comunidades do município a adotarem os sistemas agroflorestais em suas propriedades. A partir de novembro, quando as condições climáticas permitirem o início da implementação desses sistemas uma nova cultura estará se multiplicando na região.
Os SAFs serão acompanhados pela equipe técnica do projeto para garantir sua correta implantação e para dar a garantia de que com um pouco de esforço e de mudança da forma de tratar a terra é possível gerar renda em um ambiente mais saudável e mais diversificado. Ao invés das queimadas e desmatamento desnecessários estes sistemas de produção ajudam a recuperar áreas degradas e seqüestrar de volta uma parte do carbono emitido para atmosfera.
É claro que sozinha esta iniciativa não é a solução para toda a região, mas o grande valor do projeto é apontar o caminho e mostrar como chegar lá.
* André Alves é jornalista em Cuiabá
Sistemas Agroflorestais são alternativas às queimadas
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segunda-feira, 30 de agosto de 2010
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